Aos 20 anos os jovens judeus seguiam sua vocação e comumente aos 30 anos de idade se tornavam líderes. O Código da Lei Judaica instrui as congregações a buscar determinadas qualidades ao escolher um líder para conduzir os serviços nas Grandes Festas. Uma dessas qualidades é que ele deveria ter pelo menos 30 anos de idade. Por quê? O Mishna Brura explica que é aos 30 anos a pessoa se torna mais humilde e com um coração quebrantado, e pode, assim, sinceramente “orar com o coração.” Parece que a Torá compreende 30 anos de idade como um “momento da verdade” quando certas realidades da vida firmemente representam a vida da pessoa, e é somente através da aquisição de tais realidades que se pode ser um líder – seja na vida pública ou na vida religiosa.
É interessante ver que foi exatamente isso que aconteceu com Jesus, que iniciou seu ministério por volta dos 30 anos de idade. Segundo a tradição judaica aos 30 anos de idade de um pai judeu poderia declarar publicamente seu filho para ser o herdeiro de tudo o que tinha, ou escolher um filho adotivo em seu lugar. Segundo alguns estudiosos, a voz que falou dos céus, no batismo de Jesus era Deus declarando Jesus como sendo seu verdadeiro filho e herdeiro.
RABI JESUS
O ministério rabínico de Jesus é também evidenciado pelas escrituras. Por diversas vezes os evangelhos nos mostram as pessoas e discípulos se referindo à Jesus como Rabi (que significa mestre) sem que Jesus os advertisse ou mostrasse não aceitar o título. ( João 1:38; Mateus 26:49; João 4:31; João 1:49;Lucas 3:12), mas a maior afirmação de Jesus de seu título rabínico está em João 13:13 em que Jesus disse: “Vós me chamais Mestre (Rabi) e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.”
Jesus era o Filho unigênito de Deus, o senhor da lei, mas mesmo assim assumiu a posição de Rabi. Mesmo exteriormente Jesus se parecia como um judeu de sua época e usava vestimentas rabínicas como o tsîtsith como podemos ver em Mateus 9:20 em que a vestimenta religiosa judaica mencionada em Mateus 14:36; foi traduzida como “manto”.
Os evangelhos não tratam muito das vestimentas de Jesus da mesma maneira que não trata das vestimentas de outros Rabis ou dos discípulos, pois além de serem vestimentas comuns dos líderes religiosos, elas não seriam importantes ao ponto de serem mencionadas no Novo Testamento. É possível que como um Rabi do primeiro século na Palestina, Jesus tenha também usado o tephillin, (‘filactérios’) como mencionados em Deuteronômio 6:8. Os filactérios são pequenas caixas amarradas ao braço e cabeça contendo os versículos bíblicos: Êxodo 13:1-16, Deuteronômio 6:4-9 e 11:13-21. Jesus não era contra estas práticas religiosas, apenas criticou o exagero destas com o objetivo de ostentação e exibicionismo, como vinha sendo praticado por alguns líderes religiosos (Mateus 23:5), uma prática também condenada pelos rabinos posteriores a Jesus. Convencionalmente, estes adereços foram feitos para serem discretos e serem colocados sob a roupa, contudo eles se tornaram objetos de ostentação de religiosidade por alguns líderes. Contudo, alguns estudiosos acham pouco provável que Jesus usava os filactérios, pois a prática não era universal no tempo de Jesus e provavelmente àquela época a prática não era compulsória.
A ROTINA RELIGIOSA DE JESUS
A religião também era evidente na vida de Jesus em sua participação na rotina religiosa da sinagoga e no cumprimento do calendário judaico. O evangelho de Lucas mostra que a família de Jesus todos os anos ia a Jerusalém para celebrar a festa da Páscoa (Pessach) e que Jesus manteve o mesmo costume durante sua vida. Jesus também celebrava a festa dos Tabernáculos e a passagem de João 10:22-23 também pode indicar que Jesus celebrou a festa do Hanucá.
Ele também seguia o costume judaico de participar na sinagoga todos os sábados. As escrituras mostram que Jesus foi à sinagoga ao sábado “Como era seu costume” e que como um Rabi, Jesus pregava e ensinava nas sinagogas.
Pelo fato de Jesus ser um com o Pai tem-se a equivocada impressão que tudo na vida de Cristo, seu aprendizado, vida ministerial e vida pessoal aconteciam apenas de maneira sobrenatural. Contudo, apesar do mover sobrenatural na vida de Jesus, ele aprendeu como qualquer outro menino judeu e viveu como um judeu de sua época.
A religião para Jesus não era um meio de conseguir aprovação perante Deus, mas sim um reflexo natural na vida de todo aquele que busca a Deus e procura fazer sua vontade. É como se eu te encontrasse na hora do almoço em um restaurante e lhe perguntasse o que você está fazendo ali. Você provavelmente olharia para mim espantado com a pergunta para qual a resposta parece óbvia e responderia: “Eu estou aqui para almoçar!”. Sim, agora vamos um pouco mais a fundo. Por que você está ali para almoçar? A resposta é ainda mais óbvia: Por que você está com fome. Ninguém precisa lhe lembrar de que você precisa comer ou obrigá-lo a isso, sua fome naturalmente o leva a querer comer. Além disso, quando você está com fome e quer comer você não vai a uma oficina, a uma lavanderia ou a uma loja de roupas, você provavelmente vai a um restaurante.
Do mesmo modo, a vontade de buscar, conhecer e obedecer a Deus nos leva à praticas que cooperam para isso. Jesus mesmo sendo o filho de Deus ia à sinagoga como de costume. Ele poderia buscar a Deus em qualquer lugar, assim como nós também podemos, mas ao frequentemente comparecer a sinagoga e participar ativamente dela Jesus nos deixa um exemplo. Jesus também não acordou um dia aos 30 anos de idade e decidiu que iria pregar o reino de Deus. Ele se preparou para isso desde criança e o fez com afinco e dedicação estudando e absorvendo os aspectos positivos da religião. Jesus buscou um relacionamento com Deus como um Judeu de sua época, a diferença de Jesus para “alguns” judeus de seu tempo é que Jesus não buscava a aparência exterior, mas sim a verdade de um relacionamento de amor com o Pai e o próximo.